Nestor Leme
Nestor Leme

Nestor Leme é um historiador dedicado à preservação da história de Serra Negra. Além de ser o proprietário de um valioso acervo online, repleto de informações e fotografias históricas da cidade, ele também desempenha um papel crucial como colaborador no livro 'Capelas Rurais de Serra Negra – História e Fé'.

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Serra Negra e suas particularidades

Nestor Leme fala sobre as características e as diferenças culturais entre Serra Negra e as outras cidades do Circuito das Águas Paulista

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Serra Negra e suas particularidades
Antigo registro da Igreja de São Benedito e, ao lado, o Hospital Municipal Santa Rosa de Lima | Nestor Leme (Arquivo)

Normalmente, as cidades diferem umas das outras em suas particularidades. A Paróquia de N. S. do Rosário, Padroeira de Serra Negra, é a única da Diocese que comemora festas de dois Santos num mesmo ano. Aqui, festejamos Santo Antônio no dia 13 de junho e a Padroeira em 1º de novembro. E esta é só uma das muitas diferenças existentes entre Serra Negra e cidades vizinhas.

Antigamente, nos encontros semanais dos serranos, que aconteciam nas noites de domingo, na Praça João Zelante, onde começavam os namoros, as moças, passeavam de braços dados umas com as outras do lado de dentro do passeio, e a rapaziada, passeava do lado de fora, ficando deste modo, sempre de frente um para o outro, nos encontros. Na juventude, fui tentar arrumar namoradas em Itapira e em Amparo, e chegando nestas cidades, achei o jeito dos vizinhos meio estranho.  Lá, só as moças circulavam no passeio e com uma multidão de homens as cercando por todos os lados.

O futebol serrano também era diferente, pois numa população com maioria de descendência de italianos, fundaram um time denominado Portuguesa, sendo que a colônia de patrícios serranos não chegava a dez indivíduos, mas esta Portuguesa, tinha uma grande torcida com sobrenomes italianos.

Serra Negra comemora seu aniversário de fundação no dia 23 de setembro, com festas e desfile cívico, como se neste dia, o sitiante Lourenço Franco de Oliveira, tivesse saído de sua casa no Bico de Pato, região das Três Barras, caminhado até o atual centro da cidade, e aqui, não sabemos  como fundou Serra Negra, contrariando a documentação existente, onde está registrado que, nesta data,  lá em São Paulo, o Bispo, atendendo a suplica dos locais,  assinou uma carta concedendo a Capela Curada e um Padre efetivo, para dirigir o rebanho serrano. Tem também os que dizem que neste mesmo dia, o Lourenço começou tudo, construindo uma capela no bairro onde morava, embora a maioria saiba que, a primeira capela erigida nas Três Barras foi a de São Roque, por volta de 1911 e por ordem de Ângelo Lepore.

São muitas as particularidades serranas e a que arremata este causo, faz parte do nosso linguajar, e ela até causa estranheza para os que não conhecem nossos costumes. Foi o que aconteceu com a filha do casal de santistas, Seu Antônio Soares e Dona Inês, que quando se casaram, vieram passar a Lua de Mel no Radio Hotel e, quando comemoraram suas Bodas de Ouro, cinquenta anos depois, voltaram ao mesmo hotel onde haviam estado na juventude. Já hospedados no Radio, Dona Inês, teve uma indisposição e houve necessidade de o marido levá-la ao hospital para o atendimento médico. Aconteceu que a filha do casal, lá de Santos, querendo saber sobre os pais, ligou para o telefone da portaria do hotel, uma vez que, naquele tempo, ainda não existiam os atuais celulares. Atendida pelo porteiro, esta perguntou sobre os pais e o atendente lhe respondeu que, a mãe dela tinha subido para o hospital. Percebendo que a moça ficou preocupada, o atendente logo emendou dizendo que, ela havia subido, mas já estava boa e descido do hospital. Como ela não entendeu nada, daquela prosa, perguntou “Que negócio é este, de subir e descer do hospital?”. “Ah! – respondeu o porteiro, – É que o hospital daqui de Serra Negra, fica em cima do morro, e por isto, é que dizemos subir e descer do hospital...

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