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Nestor Leme é um historiador dedicado à preservação da história de Serra Negra. Além de ser o proprietário de um valioso acervo online, repleto de informações e fotografias históricas da cidade, ele também desempenha um papel crucial como colaborador no livro 'Capelas Rurais de Serra Negra – História e Fé'.
Imagino que as pessoas boas, quando partem em sua viagem rumo ao infinito, caminham por uma estrada iluminada e cercada de flores, e no fim dessa caminhada, elas encontram à sua espera todos os que com elas tiveram boas lembranças. E o caminheiro da vez é o meu grande amigo Osvaldinho Canhassi, a quem sempre chamei de Gilo, e era assim que ele me chamava. E por que o chamávamos de Gilo? Não sei, pois essa história começou quando ele, que era sanfoneiro, virava percussionista da famosa orquestra carnavalesca do Titão, que por anos animou o carnaval do Serra Negra Esporte Clube. E naquele meio, todos o chamavam de Gilo. Acho que nossa amizade nasceu conosco, pois desde que o conheci, sempre fomos amigos, e nossos encontros eram motivo para sentarmos e colocarmos a prosa em dia. E quem, nesta Serra Negra, não era amigo dele ou não o conheceu? Seu nome era Osvaldo Fiorindo Jaqueta, nasceu no Bairro dos Leais e, quando veio morar na cidade, foi trabalhar na Fábrica de Artefatos em Couro dos Irmãos Canhassi, onde se tornou artista na confecção de bolsas, mas foi com a música que ele escreveu sua história, pela qual será lembrado para sempre.
Muito cedo, aprendeu a tocar sanfona e era daqueles sanfoneiros que tocavam por amor à música. Antigamente, as festas familiares sempre terminavam em animados bailes, e por isso, contratavam sanfoneiros para animar essas festas. Estes, em sua maioria, eram pagos pelo serviço, mas com o Osvaldinho era diferente: se você o queria em sua festa, era só convidá-lo que ele aparecia com sua sanfona e tocava até que o último convidado fosse embora. Gostava tanto de tocar que, de vez em quando, aparecia com o instrumento no Bar Rádio e ali executava músicas por horas, animando o ambiente.
O Osvaldinho, em sua trajetória como músico, tocou em quase todos os conjuntos musicais formados em Serra Negra. Tocou na Orquestra Iara, nos Notáveis, na Orquestra do André e até na Banda Lira, como percussionista. Além disso, formou conjuntos com Nelson Buzzo, Irineu Schiavo e Armando Menegatti, com os quais animou bailes em tulhas de café, barracas cobertas de lona, festas caipiras, casamentos, batizados, aniversários, ou seja, em qualquer lugar onde as pessoas quisessem dançar. Fui a muitos bailes animados com o som de sua sanfona e posso afirmar que ele foi o maior e o mais animado sanfoneiro da história da música de Serra Negra.
Este, quando estava animando um baile, ficava hipnotizado com sua sanfona. Era incansável na execução das músicas, tocava por horas quase sem intervalos. Um dia destes, depois de uma vida alegre de nove décadas, Deus o chamou e sua sanfona silenciou, deixando muita saudade a todos que se divertiram com suas músicas. Agora é ele quem vejo caminhando pela estrada que leva ao infinito, mas vejo também que no fim dessa estrada há aglomeração alegre à sua espera. São seus companheiros de música que já partiram, além de rostos conhecidos de pessoas que o tiveram como amigo, e todos querem abraçá-lo e agradecer por todas as alegrias que ele nos proporcionou em sua longa existência.
Queria ser sepultado com música, e foi, pois o clarinetista Arthur Petroli acompanhou seu esquife até a sepultura e o homenageou executando os chorinhos que por anos saíram de sua sanfona. Enfim, só resta dizer: “Vai com Deus, grande amigo Osvaldinho!” Ou melhor: “Vai com Deus, grande amigo Gilo!”