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Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.
Neste 21 de fevereiro, celebramos duas efemérides que parecem ter sido escolhidas a dedo para o Brasil: o Dia Internacional da Língua Materna e o Dia da Imigração Italiana.
Uma combinação perfeita para um país onde a língua materna pode ser o português, mas o sotaque e as expressões variam mais do que o preço do café no mercado!
Afinal, temos línguas indígenas, africanas, italianas e uma infinidade de variantes do bom e velho português tupiniquim. Uma herança cultural que nos convida à preservação, à valorização... e, claro, a um bom papo!
E por falar em diversidade linguística, como um bom serranegrense criado na Mooca, me vem à mente um mestre da fala do povo: Adoniran Barbosa! Esse gênio da música soube como ninguém traduzir o jeito peculiar do imigrante italiano se aventurando no português brasileiro. Quem nunca ouviu um "nóis fumo", "trasantontem", "nóis vortemo", "dadoutraveis" ou "dididonde nóis passemo"?
Expressões que saltam das letras de músicas como Samba do Arnesto, Saudosa Maloca e Trem das Onze, e que, cá entre nós, dizem muito mais sobre o Brasil real do que qualquer gramática normativa.
Agora, se Adoniran conquistou corações com a linguagem popular, Rui Barbosa impressionou o mundo com sua erudição. Conhecido como "Águia de Haia", ele brilhou na II Conferência Internacional da Paz, em 1907, com uma oratória que deixaria qualquer um de boca aberta (e com um dicionário na mão). Um verdadeiro mestre da retórica, Rui Barbosa defendia a igualdade entre as nações com frases que pareciam esculpidas à pena e tinteiro.
E já que estamos falando de discurso, existe uma lenda (ou seria verdade?) sobre Rui Barbosa que vale a pena contar. Dizem que, na conferência, alguns diplomatas tentaram ironizá-lo, sugerindo que ele precisava "emprestar" a língua portuguesa para se expressar. A resposta? Um discurso impecável... em tupi-guarani! Sim, este homem não apenas dominava o português, como também dava aula de brasilidade!
Dois Barbosas, duas figuras tão diferentes, mas que compartilham algo essencial: o amor pela língua e pela cultura brasileira. Adoniran, com seu jeito irreverente e suas letras cheias de vida; Rui, com sua oratória impecável e seu pensamento afiado.
Cada um, à sua maneira, eles mostram que a língua é um patrimônio vivo, moldado pelo povo e pela história.
E aí, qual Barbosa te inspira mais? O Adoniran, com suas histórias da Mooca, ou o Rui, com seus discursos em Haia? Seja qual for sua escolha, uma coisa é certa: a língua materna nunca foi — nem nunca será — monótona por aqui!