Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

O Deus Do Mau Humor

Neste artigo para o Jornal O Serrano, Henrique Vieira Filho mostra o quanto Serra Negra poderia seguir o exemplo do Festival de Cinema de Gramado (que traz enormes recursos à cidade) e nos diverte com os paralelismos entre a premiação dos artistas com o Kikito, estatueta de um deus sorridente e o Ranzito, deus do mau humor, que recepcionou os artistas em nossa cidade, por ocasião da I Mostra de Cinema Fantástico Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6408 de 14/06/2024

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O Deus Do Mau Humor
Kikito e Ranzito - Ilustração: Henrique Vieira Filho

Bem que Serra Negra poderia trocar ideias com a cidade de Gramado, que em agosto realizará o 52º Festival de Cinema, que traz 300 mil turistas, R$ 400 milhões em reportagens espontâneas e ocupação de quase 100% da rede hoteleira, repercutindo nos restaurantes, comércio e gerando uma infinidade de novos postos de trabalho.

Lá, os artistas são agraciados com a estatueta sorridente da divindade do bom-humor, o Kikito. 

Já em nossa terra, em que recém realizamos a I Mostra de Cinema Fantástico, fomos recepcionados pelo Ranzito, o deus do mau humor, em pessoa!

Chateado em ter que, em pleno fim de semana, abrir e fechar portas para o público poder assistir aos filmes, apreciar as obras de arte e participar da deliciosa palestra da cineasta, atriz e escritora Liz Marins, o deus Ranzito estava ainda mais propenso do que o habitual em nos abençoar com sua rabugice sagrada.

Convenhamos, ninguém merece este tipo de tratamento, menos ainda, jovens artistas, quase todas mulheres, que lá estavam trabalhando de graça, pelo amor à arte.

Se dependesse apenas da verba (que veio de fora, deixemos bem claro: Lei Paulo Gustavo), seria impossível realizar a exibição. Para terem uma ideia, não faz muito tempo, evento semelhante na capital contou com valores quinhentas vezes maiores (literalmente!) para poder ser trazido ao público.

Como psicanalista, até posso exercitar empatia e compreender o Ranzito. Afinal, o Centro de Convenções, que tanto ama e zela como se fosse seu, está carente de muitos cuidados e, convenhamos, perante escassez de verbas públicas, a reforma não está na lista de prioridades.

Sem recursos para consertar os sistemas de vídeo e som, sem poder arrumar a parte elétrica e nem ideia de como resolver o problema do mofo, restou focar seus poderes naquilo que realmente consegue intervir: fotografar (para servir de “prova”!) e “ranzizar” contra a aplicação de fitas dupla-face na parede, pois poderia “descascar a pintura”…

Dentre meus vários defeitos, um se fez presente neste momento: grosseria contra colaboradores, eu devolvo em dobro!

Claro, que, passado o furor do momento, me desculpo e me dou conta do quanto preciso melhorar como pessoa.

Afinal, ainda que não tenhamos autoridade, nem verba para resolver o mofo no ambiente, ao menos dos nossos corações devemos cuidar para que nunca embolorem!

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