Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

O Circuito dos Pedágios: Um Tributo a Nabucodonosor

Esta sarcástica crônica de Henrique Vieira Filho traça um paralelo irônico entre os pedágios modernos e sua origem na Babilônia de Nabucodonosor, passando pela Idade Média, o Brasil colonial e até mesmo figuras lendárias como Robin Hood. Com humor ácido, o texto critica a proliferação de pedágios no Circuito das Águas Paulista, onde visitar cidades vizinhas corre o risco de virar uma experiência paga. Publicado no Jornal O SERRANO, Nº 6443 de 07/03/2025

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O Circuito dos Pedágios: Um Tributo a Nabucodonosor
Arte: 4000 Anos de Pedágios - Ilustração: Henrique Vieira Filho<

Ah, o pedágio! Essa instituição milenar que nos acompanha desde os tempos em que a Babilônia era o centro do universo conhecido. Há mais de quatro milênios, os babilônios, com sua visão de negócios à frente de seu tempo, já haviam percebido que cobrar uma taxinha para quem quisesse usar suas estradas era uma excelente forma de encher os cofres reais. Afinal, quem ousaria discordar do rei Nabucodonosor quando ele exigisse uns trocados para deixar você passar com sua caravana de especiarias?

E não pense que a ideia se perdeu no tempo! Na Idade Média, os senhores feudais, sempre sedentos por mais ouro, logo perceberam que podiam fazer o mesmo. Cobravam pedágio para cruzar pontes, estradas e até mesmo para entrar em suas terras. Era uma festa para os coletores de impostos e um pesadelo para os viajantes.

No Brasil do século XVIII, a Rota dos Tropeiros (coincidente, em parte, com a atual Rodovia Régis Bittencourt) era um verdadeiro festival de pedágios. Os tropeiros, coitados, deviam carregar um mapa com todos os postos de cobrança para não serem pegos de surpresa! Há quem diga que era para uma boa causa: a reconstrução de Lisboa, após o terremoto de 1755. Bom, ao menos tinham uma justificativa elegante.

Na ficção, Robin Hood “cobrava” dos ricos que passavam pela floresta para dar aos pobres. Na vida real, conheci algo similar aplicado em uma passarela para pedestres sobre a Via Dutra: também eram foras-da-lei, só que tiravam dos pobres e davam para si mesmos…

E agora, meus amigos, chegamos ao ápice da tragicomédia: no Circuito das Águas Paulista, os governantes, em sua infinita sabedoria, decidiram que a melhor forma de unir as cidades é... cobrando pedágio entre elas! Afinal, nada como pagar para visitar o vizinho, não é mesmo?

Imagina só: você quer tomar um café em Serra Negra, mas antes precisa passar por um pedágio. Quer dar um pulinho em Águas de Lindóia para relaxar nas termas? Prepare o bolso! É pedágio na certa. E assim, vamos transformando o Circuito das Águas em um verdadeiro "Circuito dos Pedágios".

Dizem que viajar abre a mente, mas com esse tanto de pedágio, o único que se abre mesmo é o porta-luvas – para procurar as moedas que sobraram do último troco…

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