Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

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Neve, Coisa Nenhuma! Aqui é Serra Negra!

Neste artigo para o Jornal O Serrano, Henrique Vieira Filho ironiza a imposição da estética natalina do hemisfério norte em Serra Negra, onde o verão pede sorvete, sol e piquenique na grama. Uma reflexão divertida sobre a globalização e a identidade local. Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6434 de 2012/2024

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Neve, Coisa Nenhuma! Aqui é Serra Negra!
Noel em Serra Negra - Ilustração: Henrique Vieira Filho

Ah, dezembro chegou, e com ele a grande campanha global de marketing do hemisfério norte: neve, neve, neve! Você liga a TV e pronto! Lá está a programação tradicional natalina. 

Pinheiros congelados, flocos brancos caindo do céu, chalés fumegantes e crianças construindo bonecos de neve com cenouras estrategicamente alocadas. Bonito? Sim, mas... cadê a lógica disso aqui, em Serra Negra?

Aqui, meu caro leitor, a coisa é bem diferente. O solstício de verão nos brinda com temperaturas subindo, o sorvete derretendo antes de você terminar a primeira lambida, e aquela brisa quente típica das tardes serranas. Se neve é sonho, nossa realidade são os abacaxis fresquinhos da feira e piquenique na grama.

Mas, tente explicar isso para os marqueteiros das grandes redes de televisão! Para eles, Papai Noel só funciona se estiver embrulhado em três camadas de lã, com um gorro que deve ser um forno particular para o pobre coitado. 

Imagina o Bom Velhinho tentando entregar presentes em Serra Negra, suando tanto que ia deixar os pacotes ensopados. Um verdadeiro banho-maria natalino!

E aquelas músicas? "Let it Snow"? Deixa nevar onde, minha gente? No Alto da Serra? Ou quem sabe na Fonte Santo Agostinho, que até pode refrescar, mas com água mineral, não com gelo! 

Enquanto isso, nas ruas da nossa cidade, o clima é outro. O pessoal aproveita as férias escolares, a molecada desce a ladeira de bicicleta, e as mesinhas dos bares ficam lotadas de gente tomando chope gelado, que é o mais perto de gelo que conseguimos sem precisar de uma agência de turismo.

Não seria tão difícil tropicalizar esse imaginário natalino. Que tal um Papai Noel de chinelos, bermuda e camiseta? Em vez do trenó, ele podia muito bem usar um “trenzinho” daquelas que passeiam os turistas aqui pelas ruas. Quem precisa de renas quando temos os cavalos da cidade? 

Somos bombardeados com filmes em que os personagens sempre caem de amores patinando no gelo. Aqui, a nossa versão seria algo como um casal se apaixonando ao disputar o último pacote de carvão no supermercado, porque churrasco (de legumes, no meu caso, pois sou vegetariano) em dezembro é item de primeira necessidade.


Então, quando você ligar a TV e der de cara com aquelas cenas geladas, lembre-se: isso não é sobre nós. 

Aqui, em Serra Negra, o Natal tem cheiro de fruta madura, calor na alma e brisa nos finais de tarde. E neve? Neve, coisa nenhuma! Aqui é Serra Negra!

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