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Nestor Leme é um historiador dedicado à preservação da história de Serra Negra. Além de ser o proprietário de um valioso acervo online, repleto de informações e fotografias históricas da cidade, ele também desempenha um papel crucial como colaborador no livro 'Capelas Rurais de Serra Negra – História e Fé'.
Num dos dias que antecederam as comemorações do 194º aniversário de Serra Negra, fui procurado pela Prof.ª Cláudia Costa, diretora do Grupo Escolar Lourenço Franco de Oliveira. Ela queria informações sobre a história da Fonte Santo Agostinho, pois aquele ponto turístico seria o enredo de sua escola no desfile cívico comemorativo. De imediato, fui pesquisar em meu arquivo as informações pedidas por ela. Procurei em vários livros e nada encontrei. Porém, como guardo o acervo de meu irmão, Odilon Souza Lemos, foi lá que encontrei o material que a Cláudia queria.
Em um dos registros do Odilon, fiquei sabendo que, quando as qualidades medicinais da água da Fonte Santo Antônio, captada por Luiz Rielli em 1929, foram comprovadas, outras nascentes da mesma faixa de terra também começaram a ser usadas para o consumo de serranos e turistas. Depois da descoberta da Fonte Santo Antônio, o próprio Luiz Rielli desenterrou a Fonte Nossa Senhora do Rosário, e outros desenterraram as fontes São João, São Carlos e também a Fonte Santo Agostinho. As três primeiras logo começaram a ter suas águas engarrafadas para comercialização, e a Fonte São Carlos foi melhor captada para o uso geral.
A água da Fonte Santo Agostinho não brotava no barranco como as demais, e para que esta pudesse ser consumida, foi aberta uma vala coberta por um rancho rústico, onde foi colocada uma bica para os usuários colherem a água. E o interessante dessa fonte é que o barranco onde brotava a água era formado por uma espécie de lama negra, com a qual pessoas com problemas de pele cobriam os rostos e braços. Elas afirmavam que aquela lama tinha propriedades curativas e que devia ser retirada com água da própria nascente.
Aquela fonte ficou naquele estado até 1966, quando Enzo Perondini tomou posse como nosso prefeito. Logo no início de seu mandato, ele ordenou que fosse feita a urbanização daquele ponto turístico. E o interessante dessa obra é que, durante a limpeza do terreno, descobriram outra nascente, à qual deram o nome de Fonte Santa Luzia, pois disseram que aquela água era curativa para problemas de visão. E o Enzo caprichou em sua obra, pois mandou construir um lago com carpas coloridas, quiosque chinês, viveiros com araras e outras aves, roda d'água, monjolo e um caramanchão para o lazer, decorado com painéis de azulejos do artista plástico João Hein. Também foram plantadas flores e dezenas de árvores nativas para proteger as nascentes. Mas o maior cuidado foi com a captação das nascentes para facilitar o consumo por serranos e turistas.
Tão logo a obra do prefeito Enzo ficou pronta, o lugar se transformou no principal ponto turístico de Serra Negra. Recebe até hoje centenas de visitantes para degustarem as águas das duas nascentes, sendo há anos uma das paradas obrigatórias do trenzinho turístico que transporta os visitantes para conhecerem a nossa cidade. O tempo passou, as árvores plantadas pelo Enzo cresceram, o local recebeu várias reformas, que deixaram a Fonte Santo Agostinho com seu aspecto atual. Mas, infelizmente, um dos costumes antigos desapareceu: não se veem mais pessoas com o rosto coberto com a lama negra milagrosa como antigamente. Pois, durante as melhorias executadas no local, esqueceram-se de deixar um lugar onde a lama pudesse ser retirada e usada pelo pessoal...