Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Fevereiro: Água Abaixo, Ironia Acima!

Em Serra Negra, fevereiro chega com chuva, atrasa o Carnaval e ironiza as promessas de ano novo. Uma crônica bem-humorada de Henrique Vieira Filho. Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6439 de 07/02/2025

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Fevereiro: Água Abaixo, Ironia Acima!
Arte: Chuva Carnavalesca - Artista: Henrique Vieira Filho

 Fevereiro é aquele mês que chega sem avisar, como um domingo à noite, meio indeciso, meio cansado. 

O otimismo de janeiro, que brilhou como os fogos de artifício do réveillon, já começa a ratear. As promessas de ano novo, firmes e confiantes no dia 1º, agora encaram a dura realidade: a academia virou um enfeite no débito automático, a dieta foi sabotada por um rodízio de pizza, e o planejamento financeiro naufragou no IPTU, no IPVA e em um boleto que você nem lembra do que se trata!

E, em 2025, a coisa fica ainda mais atípica: fevereiro veio, mas o Carnaval… não. O Brasil, que segundo a sabedoria popular só começa depois da folia, está em compasso de espera. Estamos todos numa espécie de ensaio geral, um purgatório tropical onde ninguém sabe se já pode ser produtivo ou se ainda tem direito a postergar decisões importantes para “depois do Carnaval” — que, veja bem, só será em março!

Serra Negra também sente o impacto. Em qualquer outro ano, já estaríamos vendo foliões se infiltrando entre turistas de terceira idade que vieram tomar um banho de águas medicinais (e não conseguem encontrar onde fazer). 

O bloquinho competiria com o passeio de teleférico e os confetes se misturariam ao cheiro do café fresco das fazendas. Mas, agora? Agora fevereiro está assim: meio vazio, meio esperando. O comércio ainda nem colocou os adereços carnavalescos nas vitrines, pois o ritmo ainda não embalou. O pessoal dos hotéis olham a lista de reservas com um ar de quem abriu o presente errado no amigo secreto.

Além disso, como se fevereiro já não fosse confuso o suficiente, São Pedro (ou seria a deusa indígena Amanaci?) resolveu entrar na brincadeira e mandou chuva acima do normal para a época! 

Chove tanto que até as promessas de um ano mais ensolarado estão começando a derreter! Os turistas olham para os guarda-chuvas vendidos nas lojinhas e percebem que, desta vez, não são apenas souvenires. O teleférico, coitado, parece um barco fantasma subindo e descendo na neblina, e os bloquinhos de Carnaval – quando finalmente chegarem – talvez precisem de botes infláveis para desfilar.

Mas, como tudo na vida, fevereiro também passa. As águas vão baixar, os confetes vão voar, e o Carnaval, quando enfim chegar, trará aquela explosão de cor e alegria que reacende até as esperanças mais cansadas. 

E, quem sabe, com um pouco de sorte, março traga um sol mais generoso e um recomeço menos capenga!

Porque, se tem uma coisa que o brasileiro domina, além de adiar planos e se reinventar, é encontrar motivos para celebrar – mesmo quando o ano só decide começar de verdade lá pelo terceiro mês.

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