Colunas

Estão convocando minha turma

Compartilhe:
Estão convocando minha turma
Café da Manhã, Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)

Sempre ouvi histórias do meu sogro. Ele tinha o costume de ler o jornal no café da manhã, e sempre que encontrava algum amigo no obituário, gritava para minha sogra: “Lourdes, estão convocando minha turma!”. 

Quando o relógio da vida parece estar encontrando o fim da corda – para quem não sabe, os relógios antes funcionavam com corda – parece que começamos a correr contra o tempo, desejando fazer aquilo que ainda não fizemos e aproveitar até que nosso tempo termine.  Nesse tempo, muitos amigos começam a partir, não para viajar, mas para destinos que não têm mais volta. Até chegar aos sessenta, ninguém pensa que a vida vai ter fim, e a vida parece ser eterna. Quantos sonhos, quantas esperanças e tudo vai perdendo a magia, e as memórias começam a povoar as mentes, enquanto as neblinas da idade não as cobrem. Ah, os verões na praia ou na fazenda, aventuras, invernos das serras, quantas recordações que preenchem de alegria nossa alma.

Os amigos que fomos abraçando pela vida e nos acompanharam pela jornada, começam a partir. Alguns amigos tão próximos que partem, deixam um vazio enorme e me pego muitas vezes querendo conversar com eles e não podendo mais. 

Todos nós, durante nossas vidas, fomos em busca de nossos sonhos, criamos famílias ou ficamos sozinhos, trabalhamos, realizamos, acertamos, erramos, estudamos, viajamos, andamos, nadamos, comemos, bebemos, e a vida foi passando e trazendo coisas boas e ruins, amores e desamores, ganhos e perdas, e assim, a vida vai passando e chegando ao seu ápice. Será que o ápice é o momento em que estamos realizando algo ou quando estamos partindo para o desconhecido?  

À medida que os anos vão passando, vamos aprendendo a lidar com as despedidas com um pouco mais de serenidade. A jornada da vida vai seguindo em frente e vai ficando a saudade que se transforma em nostalgia. As lágrimas dão lugar as lembranças e a saudade das lembranças felizes que nos acompanham para sempre. 

Quando olho para trás, sinto muita gratidão por cada amizade que cruzou meu caminho. Em amizades, incluo os amores e as famílias que também que me trouxeram tanta felicidade. As partidas deixam sempre uma marca de tristeza em minha alma e me lembram da importância de todas as pessoas que passaram por minha vida como estrelas brilhantes. As convocações são inevitáveis e fazem parte do ciclo da vida que vamos vivendo intensamente, até que chegue para nós a tal convocação.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE