Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Conhecimento x Sabedoria

Neste artigo para o Jornal O Serrano, Henrique Vieira Filho relata a honra de entrar para a Academia de Letras e da importância de valorizarmos os Mestres do Saber, pessoas autodidatas que são verdadeiras enciclopédias vivas de histórias e sabedoria de vida. Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6383, de 01/12//2023

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Conhecimento x Sabedoria
Sabedoria Ancestral - Ilustração: Henríque Víeira Filho

Recentemente, tive a honra de tomar posse como membro da Academia Amparense de Letras

O cerimonial previa a apresentação de uma breve bio­grafia de cada homenageado. 

Contudo, eram tantos títulos de pós-graduações, doutorados e realizações acadêmicas e científicas dos participantes que tomou quatro horas de complacência meditativa da plateia 

Paciência não é uma virtude que eu possuo, ainda mais sabendo que seria o último a falar: a ansiedade tomava conta! 

Fiquei remoendo mentalmente um discurso, mas, sentia que falar de mim mesmo não era o certo para aquele momento. 

Resolvi homenagear uma querida amparense, que nunca recebeu titulo nenhum, nem jamais escreveu um livro…

Na verdade, mal aprendeu a ler ou escrever e, ainda assim, ela certamente sabe bem mais do que eu: minha avó, Emma Rimonato Sergenti. 

Desde 1899, vivendo nas fazendas de café de nossa região, ela foi aprendendo com a natureza o poder das plantas, das benzeduras e rezas, além de memorizar um sem número de "causos". 

Sua contação de histó­rias em nada devia às de um Monteiro Lobato, incluindo até lobisomem, assombração, saci, tudo em meio aos cafezais. 

A fila de pessoas que a procuravam em busca de suas "garrafadas de ervas" e benzimentos rivalizava com a de muitos consultórios de doutores.

Um de meus livros é justamente sobre o uso te­rapêutico das plantas, onde apliquei a teoria chinesa sobre ervas ocidentais e uma abordagem sociológica na qual as histórias e lendas sobre cada planta eram o meio utilizado pelos antigos como forma de ensinar a sua utilidade. 

Uau! Que chique! Quanto conhe­cimento! Só que a minha avó, bastaria olhar para qualquer mato, que já sabia para que serve.

Esse dom é uma forma de SABEDORIA! Estudar nos permite acumular CONHECIMENTO, o que não significa, necessariamente, que nos tornamos SÁBIOS. 

Há inúmeras pessoas que não tiveram formação e, mesmo assim, aprenderam com a vida, com os mais velhos, por transmissão oral e até de forma nata, como um dom. 

São os chamados Mestres do Saber, autodidatas, verdadeiras enciclopédias vivas de histórias, memórias e habilidades, que merecem ser reverenciados tanto quanto os que conquistaram títulos acadêmicos. 

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