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Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.
Recentemente, tive a honra de tomar posse como membro da Academia Amparense de Letras.
O cerimonial previa a apresentação de uma breve biografia de cada homenageado.
Contudo, eram tantos títulos de pós-graduações, doutorados e realizações acadêmicas e científicas dos participantes que tomou quatro horas de complacência meditativa da plateia
Paciência não é uma virtude que eu possuo, ainda mais sabendo que seria o último a falar: a ansiedade tomava conta!
Fiquei remoendo mentalmente um discurso, mas, sentia que falar de mim mesmo não era o certo para aquele momento.
Resolvi homenagear uma querida amparense, que nunca recebeu titulo nenhum, nem jamais escreveu um livro…
Na verdade, mal aprendeu a ler ou escrever e, ainda assim, ela certamente sabe bem mais do que eu: minha avó, Emma Rimonato Sergenti.
Desde 1899, vivendo nas fazendas de café de nossa região, ela foi aprendendo com a natureza o poder das plantas, das benzeduras e rezas, além de memorizar um sem número de "causos".
Sua contação de histórias em nada devia às de um Monteiro Lobato, incluindo até lobisomem, assombração, saci, tudo em meio aos cafezais.
A fila de pessoas que a procuravam em busca de suas "garrafadas de ervas" e benzimentos rivalizava com a de muitos consultórios de doutores.
Um de meus livros é justamente sobre o uso terapêutico das plantas, onde apliquei a teoria chinesa sobre ervas ocidentais e uma abordagem sociológica na qual as histórias e lendas sobre cada planta eram o meio utilizado pelos antigos como forma de ensinar a sua utilidade.
Uau! Que chique! Quanto conhecimento! Só que a minha avó, bastaria olhar para qualquer mato, que já sabia para que serve.
Esse dom é uma forma de SABEDORIA! Estudar nos permite acumular CONHECIMENTO, o que não significa, necessariamente, que nos tornamos SÁBIOS.
Há inúmeras pessoas que não tiveram formação e, mesmo assim, aprenderam com a vida, com os mais velhos, por transmissão oral e até de forma nata, como um dom.
São os chamados Mestres do Saber, autodidatas, verdadeiras enciclopédias vivas de histórias, memórias e habilidades, que merecem ser reverenciados tanto quanto os que conquistaram títulos acadêmicos.