Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Coletiva Fogosa

Neste artigo para o Jornal O Serrano, Henrique Vieira Filho conta que os deuses do fogo das mais variadas culturas milenares convocaram uma coletiva de imprensa para falar quem são os verdadeiros culpados. Destaque para os calorosos discursos do Saci, da Mula-Sem-Cabeça, do Curupira e da especialista, Boitatá!

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Coletiva Fogosa
Coletiva de Imprensa do Folclore | Ilustração de Henrique Vieira Filho

Cansados de tantas insinuações, os deuses do fogo de todas as culturas convocaram uma coletiva de imprensa e pediram a palavra.

Prometendo que nunca mais faria nada do gênero, Prometeu jura que se arrependeu amargamente de ter roubado o fogo do Olimpo e entregue à humanidade.

Por sua vez, a deusa romana Héstia deixou claro que era só para os humanos acenderem lareiras e que nunca pensou que usariam para tanta destruição.

Pelé (não o futebolista, e sim, a deusa havaiana) disse que estava quietinha lá nos seus vulcões e nem passou perto do interior de SP. E eu, também! - disse o grego/romano Hefesto/Vulcano.

Eu, então, estava mais longe ainda e faz séculos que sequer abro minha boca! - completou a divindade japonesa, Fuji.

Tratando de deixar bem claros os seus álibis, em coro, diversos outros deuses fizeram questão de lembrar que estavam bem longe de nossas cidades: Agni e Draupadi (indianos), Zhurong (chinês), Ra e Sekhmet (egípcios) e tantos mais outros digníssimos personagens mitológicos argumentarem que, devido à distância, nem sequer teriam oportunidade de atear fogo por aqui.

Percebendo que o fogo soprava em suas direções, as divindades locais trataram de se defender!

A orixá Iansã (Oyá) explicou que, de fato, faz um bom tempo que tem casa no Brasil, que é guerreira, sim; contudo, se fosse ela a atacar, esse fogo viria dos céus, o que não é o caso.  

Representando a mitologia tupi-guarani, a deusa Angra deixou claro que todo o seu fogo está focado na metalurgia.

Por sua vez, o Saci disse que com fogo não se brinca e que todos sabem que ele gosta mesmo é de apagar as fogueiras e não o contrário.

A mula disse que é sem cabeça, mas não é, nem burra, nem cabeça-oca de sair por aí pondo fogo no mato!

Curupira jurou que jamais prejudicaria as matas e que, na verdade, tem esquentado muito a cabeça procurando os verdadeiros culpados, com a ajuda da Caipora e da maior especialista de todas as divindades em encontrar e punir incendiários: Boitatá!

Aproveitando a deixa, Boitatá discursou que de boi, só tem o nome e que com ela não tem essa coisa de “deixar passar a boiada”, que seu corpo arde em chamas de tanta revolta e que vai cobrar providências das autoridades!

 Continuando, a Cobra-de-Fogo lembrou a todos que, em agosto de 2019, tivemos o “Dia Do Fogo”, em que centenas de incêndios criminosos foram ateados simultaneamente causando danos irreparáveis na Amazônia, tão somente para que as florestas virassem pastagem para gado!

E, entre revolta e tristeza, vaticinou: parem com o cinismo de tentar jogar a culpa na Mãe Natureza, pois, se a humanidade “se queimar” com Ela, aí é que as coisas vão esquentar! E muito! 

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