Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Afrodescendência E República

Neste artigo para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho soma as pautas do Dia da Proclamação da República com o Dia da Consciência Negra, destacando a importância dos afrodescendentes para o fim da monarquia e a implantação da nova forma de governo, contando casos históricos, desde o Massacre dos Libertos, até o ingresso e participação ativa de pensadores e políticos negros em prol da igualdade. Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6331, de 18/11/2022

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Afrodescendência E República
Releitura afro-empoderada da obra “A Liberdade Guiando O Povo” – Artista: Henrique Vieira Filho

O Dia da Consciência Negra é celebrado logo após o da Proclamação da República, tornando o momento pertinente para destacar o papel político e social dos afrodescendentes no que culminou com o fim da monarquia no Brasil.

 Escravagistas estavam descontentes com a Coroa, já que esta não tinha como atender à reivindicação de compensação financeira pela abolição. Sim, pasme, eles se achavam nesse “direito”!

 Por sua vez, uma boa parte dos libertos nutriam simpatia pelo reinado, pois nele é que nasceram as primeiras leis rumo ao fim da escravidão. E, considerando que os latifundiários passaram a apoiar os movimentos republicanos, surgiram “fake news” (até naquela época!) de que era um estratagema para retomada da escravatura.

 Notícias falsas prejudicam a todos e, antigamente era igual, resultando na trágica passeata conhecida como “O Massacre de 17 de Novembro”, em São Luís do Maranhão. Milhares de pessoas, descritas nos tablóides como “libertos”, “homens de cor”, “cidadãos do 13 de maio” e “ex-escravos” caminharam até o jornal “O Globo”, para impedir uma conferência republicana, sendo recebidos a bala pelos soldados.

 De fato, muitos senhores de engenho, na prática, continuavam a ignorar as leis abolicionistas; outrossim, os ideais da República (do latim “Res Publica” = “coisa pública”) eram mais afinados com a igualdade, nos moldes da que se fez no imaginário da Revolução Francesa.

 Tanto que um de seus maiores defensores foi o líder do Quilombo do Jabaquara, Quintino Lacerda, que se tornou o primeiro negro vereador e presidente da Câmara Municipal, membro destacado do Clube Republicano de Santos. Lutando pelos mesmos ideais, no RJ, havia o Club Republicano dos Homens de Cor, sob a liderança de Anacleto de Freitas e, no RS, a Mocidade Preta, que apoiou a criação do Partido Republicano Rio-Grandense.

  Uma vez garantida a liberdade, o desafio seguinte era conquistar, para uma população escravizada por séculos, a mesma igualdade idealizada para todos.

  Transcorridos mais de 130 anos da Proclamação da República, os “Republicanos de Cor”, como eram chamados e aclamados pelo jornal “A Pátria”, ainda têm um longo caminho a percorrer.

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