Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Afinal, Uma Imagem Vale Mais Que Mil Palavras?

Henrique Vieira Filho reflete sobre a transmissão de conhecimento e história através de diferentes formas de arte, questionando o ditado "uma imagem vale mais que mil palavras". A crônica compara a época em que a pintura sacra ensinava a fé a um público iletrado com os desafios de interpretação textual na atualidade. Destaca o poder do teatro de rua e das pinturas de Cid Serra Negra em emocionar e transmitir conhecimento. Celebra o sucesso do curta-metragem sobre Cid em festivais internacionais e anuncia o lançamento do livro sobre o artista, ponderando sobre o alcance de cada mídia na tarefa de perpetuar sua história e obra.

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Afinal, Uma Imagem Vale Mais Que Mil Palavras?
"Via Sacra” - Artista: Cid Serra Negra - Fotografia: Henrique Vieira Filho

Imaginem a cena: missas solenes ecoando em latim…O povo absorvia a fé mais pela atmosfera, pelos gestos eloquentes do padre e, claro, pelas belíssimas pinturas que adornavam as igrejas. Ali, a arte sacra era a grande contadora de histórias, acessível a todos os olhares, independentemente da alfabetização.

Avançamos séculos e democratizou-se o acesso à informação (ufa!). Mas, eis que surge uma nova ironia: se a capacidade de ler e escrever alcançou a maioria, a habilidade de interpretar o que se lê... bem, essa já é outra história. 

É nesse ponto que as outras formas de arte continuam a brilhar. O teatro de rua, como vimos na emocionante encenação da Paixão de Cristo, aqui em Serra Negra, arrebatou a multidão. Ali, a história ganha carne e osso, emoção palpável, uma conexão direta com o público que transcende a mera compreensão intelectual: aquilo é aprendizado visceral, gravado na memória da alma de forma muito profunda. 

Igual efeito causam as obras de nosso saudoso Cid Serra Negra, cujas pinturas nas igrejas de São Benedito e São Francisco narram, passo a passo, a saga de Jesus. 

Preciso lhes contar com um certo orgulho: a vida e a genialidade de Cid Serra Negra está nos cinemas! Nosso curta-metragem, lançado no ano passado, já está trilhando um caminho glorioso, concorrendo em nada menos que Cannes e outros quinze festivais de cinema mundo afora! Uma produção audiovisual que leva a força de sua arte para além das paredes das nossas igrejas, para os olhos e corações de plateias diversas, mostrando ao mundo a riqueza cultural da nossa Serra Negra.

E, nos próximos meses, lançaremos em livro, com o mesmo título do filme: “Cid Serra Negra - 100 Anos Do Artista Que Levou O Saci Para O Cinema”.

E aqui reside a questão: diante de duas formas de perpetuar a história e a obra de um artista tão singular como Cid – um livro, com a riqueza dos detalhes, a profundidade da pesquisa e a beleza da escrita, e um curta-metragem, com o impacto visual imediato, a força da imagem em movimento e a trilha sonora que embala as emoções – qual terá o maior alcance de corações?

A escrita, sem dúvida, oferece uma imersão intelectual, um mergulho nas nuances da biografia, nas influências artísticas e na genialidade da produção. Permite ao leitor construir suas próprias imagens, refletir no seu tempo, voltar às páginas para absorver cada detalhe. 

Mas, o cinema, ah, o cinema! Ele nos arrebata de imediato, nos transporta para a época da criação, nos apresenta o artista em sua humanidade, a emoção de sua criação de forma crua e direta. As músicas embalam a narrativa, os closes revelam detalhes que, por vezes, escapam à leitura apressada, e a edição cadencia o ritmo da história para intensificar as emoções.

O livro tocará as mentes curiosas, os estudiosos da arte, aqueles que apreciam a profundidade da biografia e a análise crítica. Mas o curta-metragem, com sua linguagem universal, que transcende barreiras culturais e linguísticas, e seu impacto sensorial imediato, tem o potencial de alcançar um público muito mais vasto, de despertar a admiração e a emoção em corações que talvez nunca se aproximariam de um livro sobre arte.

Não há uma resposta definitiva, é claro. Ambas as formas são valiosas e complementares, cada uma com seu público e seu impacto. 

Que a vida e a obra de Cid Serra Negra, seja pelas páginas do livro que em breve encantará nossos leitores, ou pelas lentes do curta-metragem (disponível na Residência Artística, também para as escolas e de livre acesso na internet), que já brilha nos festivais internacionais, continuem a emocionar e a inspirar por muitas e muitas gerações! 

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