Daniela Cagnoni
Daniela Cagnoni

Jornalista, artista visual e musicista. Atualmente, é editora do Jornal O Serrano e escreve sobre cultura no Expresso.

Colunas

Adeus à paisagem verdejante

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Adeus à paisagem verdejante
Fire in the Forest, Piero di Cosimo (1505)

Tempos atrás, fiquei feliz ao ver um pequeno esquilo andando entre as árvores da minha casa. Pude vê-lo rapidamente, enquanto se equilibrava nos galhos. Logo desapareceu.

Aqui no Brasil, as aparições desse animal são um tanto raras. Tê-lo avistado me fez pensar sobre a diversidade da fauna que existe em nossa cidade; afinal, Serra Negra abriga uma grande variedade de espécies.

No Bairro das Três Barras, já vi pássaros como unha-de-gato, bacurau, diversos tipos de sabiás, beija-flores, jacus, seriemas, águias, gaviões, canários, tucanos, entre muitos outros. À noite, já ouvi o canto do urutau e até o uivo de macacos bugio.

Nas Tabaranas, visitei lugares que parecem um campo encantado. Borboletas e flores diversas completam uma cena de poesia. E eu poderia ainda citar outros lugares da nossa cidade, entre cachoeiras e lagos, serras e florestas.

Mas a paisagem de hoje não é mais a mesma. Caminhamos entre fuligens e um mato morto. Durante esta estiagem, estamos vivendo dias profundamente tristes sob o terror das chamas que devastam nossa cidade.

Criminosos são eles. Mas como posso culpá-los pela falta de consciência? De que adianta termos os recursos necessários para apagar um incêndio, se não há o juízo para nunca o iniciar?

A ação deve ser realizada na mais profunda raiz. Uma campanha de conscientização é o que precisamos, acima de tudo. Há pessoas que acreditam que estão “limpando seus quintais”, quando, na verdade, estão danificando o solo, poluindo o ar e dizimando a vegetação e a vida animal.  Devemos, de uma vez por todas, ensinar os desavisados sobre os problemas dessa prática errônea, mas sem deixar de punir os responsáveis.

Que as autoridades olhem com mais carinho para os problemas ambientais da nossa cidade. Que estejamos mais preparados para o próximo período de seca. Que a sensibilidade transborde em nossos corações e que as pessoas sejam capazes de olhar para os campos com amor; que enxerguem a importância de cada pequeno elemento natural na vida de todos os seres. Mas, principalmente, percebam que um solo infértil é o reflexo da alma de um homem igualmente infértil.

Nossas serras se foram, mas ainda deve restar em nós a esperança de que tudo floresça novamente.

Ainda espero rever o pequeno esquilo.

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