Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Abraçando Seu Grinch Interior

Neste artigo para o Jornal O Serrano, Henrique Vieira Filho nos lembra que nem todos podemos corresponder à "obrigação de ser feliz" imposta pela sociedade para os festejos de final de ano. Temos o direito de ficar alegres, tanto quanto o dever de respeitar e compreender quem não está no "clima". Desde que, é claro, ninguém tente roubar o Natal! Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6386, de 22/12//2023

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Abraçando Seu Grinch Interior
Grinch Interior - Ilustração: Henrique Vieira Filho

O personagem Grinch, do livro do Dr. Seuss, devido aos seus traumas de infância, tem sérias dificuldades em lidar com a felicidade natalina.

Na minha experiência de mais de 35 anos atendendo como Terapeuta, bem sei o quanto o fim-de-ano pode ser complicado para muita gente.

Claro, todo mundo merece se sentir bem, nem que seja uma alegria artificial, criada na base de estímulos: excessos nas bebidas e cigarros, nas refeições, na altura do som, no frenesi das danças e presentes materiais...

Estes festejos têm origem milenar relacionados ao final do inverno (frio, neve, escassez…) e o retorno do sol (calor, primavera, fartura de alimentos…).

Era uma celebração coletiva pela sobrevivência ao período mais difícil do ano e a esperança que vem com a nova estação.

Hoje em dia, as necessidades básicas de sobrevivência da maioria estão supridas e os anseios se voltam para questões mais transcendentes, tais como a satisfação afetiva-social, a auto-estima e a auto-realização.

Para muitos de nós, o período de festas amplifica ainda mais a sensação de frustração, perante as realizações não conquistadas que, não raro, ofuscam a percepção do que de positivo aconteceu.

O final do ano atua como “término de prazo” e precipita um “julgamento” de que não fez por merecer.

Por isso, soma a sensação de culpa, às emoções de tristeza e até mesmo raiva, que parecem ter menos “espaço” de aceitação nestas épocas em que ser feliz se torna mais uma “obrigação” que não foi possível cumprir, retroalimentando a angústia pelo sentimento de inadequação.

No campo afetivo, cada um elabora suas “perdas” (mortes, separações, enfermidades, acontecimentos traumáticos, etc…), seus “lutos”, de formas distintas, cuja duração não ocorre com “prazo”, nem “data” pré-definidos para encerrar.

Porém, a sociedade “exige” que se festeje esse período, pressionando quem “ouse” estar em outra “sintonia” emocional.


Entes queridos e próximos se esforçam para “impor felicidade”, via de regra, na melhor das intenções, mas impedem a pessoa de vivenciar sua tristeza e, por consequência, de elaborar os acontecimentos e “crescer” com o processo.

Assim sendo, se você está triste ou mal-humorado, abrace o seu Grinch interior, pois ninguém tem obrigação de estar alegre só porque o calendário e a mídia mandou! 

Porém, nada de tentar roubar o Natal, pois quem quiser ficar feliz, também está no seu total direito!

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