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Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.
“Abaixe o braço, que o cheiro está forte!” - é o que gritam, em coro, os alunos da 5a série escolar, perante a pintura “Independência ou Morte”, exposta no Museu do Ipiranga.
E estão cobertos de razão! Imagine uma comitiva viajando por vários dias, montados em burros (à época, o melhor meio de transporte para superar a Serra Do Mar), sem banho, apaziguando revoltosos e, para piorar, acometidos por um persistente desarranjo intestinal! É de se esperar que o aroma não fosse dos melhores!
Esses são os fatos narrados em cartas dos participantes deste momento épico, porém não tão “romântico” quanto a imagem retratada nas pinturas.
Após ler as mensagens de Maria Leopoldina e José Bonifácio, que o aconselharam e alertaram que Portugal iria intervir no Brasil, D. Pedro, de fato, proferiu a célebre frase, dita primeiro aos mais próximos, e novamente, em discurso perante a tropa que o acompanhava.
Ninguém estava em trajes de gala, nem levantando espadas e menos ainda, montados em cavalos puro-sangue. Estavam exaustos, sujos de terra, simplesmente ao lado de suas nadas majestosas, porém, muito eficientes… mulas!
Ainda que realista e histórica, convenhamos, não é uma imagem bonita! Justamente por isso que os artistas que a retrataram tomaram algumas liberdades poéticas e optaram por “melhorar” a cena.
O autor da tela mais famosa sequer era nascido na época desses acontecimentos. Foi D. Pedro II quem encomendou a obra, que foi pintada em Florença (Itália), pelo paraibano Pedro Américo, que aplicou a mesma disposição de protagonistas, grupos e cavalarias de um quadro do francês Jean-Louis-Ernest Meissonier, que retrata uma vitória militar de Napoleão.
À época, era comum o artista demonstrar suas habilidades acadêmicas e conhecimentos, aplicando em seus trabalhos padrões de pintores renomados que o antecederam. Ainda assim, Pedro Américo sofreu acusações de plágio.
Como exercício artístico, eu mesmo fiz uma versão mais “realista” da obra (a ilustração deste artigo) e, apesar das mulas serem figuras simpáticas, o charme “heróico” se perde totalmente, beirando o tragicômico.
Quem também merecia ser retratada era a Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria e primeira esposa de D. Pedro, que na ausência dele, era quem regia o Brasil e, por isso, foi ela quem assinou o Decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal, dias antes de seu marido proclamar às margens do Ipiranga!