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Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.
Esta semana, enquanto a Slow Art Week Brazil embevecia nossos corações com a rica tapeçaria do “Do Rural Ao Urbano – A Diversidade Das Artes”, permiti-me uma experiência um tanto… cibernética! Pus uma IA - Inteligência Artificial para assistir a um vídeo da exposição. Queria, confesso, espiar o evento pelos “olhos” impessoais da lógica binária.
A análise da máquina, devo dizer, foi de uma precisão cirúrgica! Descreveu as camadas de tinta nas homenagens urbanas, catalogou a fauna surrealista dos caracóis e da torre, identificou o surrealismo steampunk dos imigrantes na pintura do trem. Notou, com acuidade fria, a força ancestral dos indígenas em meio à natureza exuberante, o mistério da sereia em seu reino aquático, até mesmo a singela homenagem ao nosso café serrano. Tecnicamente impecável, como um laudo pericial de um crime artístico!
A IA discorreu sobre a “abordagem em camadas”, o “uso de cores fortes e saturadas”, a “qualidade tátil” do impasto na tela da indígena Lindóia com a cobra. Falou em “justaposição de cenas urbanas com imagens naturais”, vislumbrando ali um “comentário ponderado sobre a modernização”. Louvou a “mistura interessante de temas” e as “homenagens claras a diferentes cidades e estilos artísticos”. Chegou, inclusive, a apontar possíveis “críticas”, como a saturação excessiva em algumas obras ou a “falta de foco claro” em outras!
Tudo ali, preto no branco digital, era verdade. A máquina havia destrinchado a exposição com a objetividade de um bisturi eletrônico! Mas faltava algo… Uma nota dissonante no algoritmo perfeito. Um sopro de vento que não movimenta os dados. Faltava, meus caros, a ALMA!
Enquanto a IA dissertou sobre a “qualidade etérea e onírica” das sereias, eu me recordava do brilho úmido nos olhos e o sorriso da ativista indígena Kena Marubo, que parou extasiada diante daquela tela, murmurando sobre as lendas de sua infância à beira do rio.
E então me veio à memória o maior elogio que jamais recebi. Não foi de um renomado curador, nem de um galerista com olfato para o sucesso. Foi aqui, em nossa Serra Negra, um senhor de mãos calejadas, rosto marcado pelo sol e um olhar que carregava a sabedoria das montanhas. Ele parou diante de uma de minhas telas – talvez uma daquelas que a IA considerou com “cores excessivamente saturadas” – e simplesmente… chorou. Não disse uma palavra. Apenas ficou ali, imerso em um universo particular que aquela tela havia despertado.
Naquele instante, meus prezados, senti que toda a minha busca por expressar o mundo, por traduzir em cores e formas as nuances da vida, havia encontrado seu eco mais profundo. Aquelas lágrimas valiam mais que todas as análises técnicas, mais que todas as críticas positivas. Eram a prova de que a arte pulsa em um ritmo que vai além da lógica fria dos algoritmos!
A inteligência artificial pode descrever a técnica, catalogar os elementos, até mesmo prever tendências. Porém, jamais compreenderá o tremor no peito diante de uma cor que ressoa com uma memória antiga, o nó na garganta diante de uma forma que evoca uma saudade adormecida.
A arte, meus amigos, é um diálogo entre corações, um idioma silencioso que a alma entende sem precisar de legendas ou “metadados”.
E essa, ah, essa é uma verdade nua e crua que nenhuma máquina jamais poderá decifrar por completo. Ainda bem!