120 anos de Alberto Giacometti.
Figuras humanas, esguias, de olhos vazios e estranhamente belas. Essas são as principais características das obras mais conhecidas de Alberto Giacometti, um dos maiores escultores do século XX.
Por Daniela Cagnoni
Figuras humanas, esguias, de olhos vazios e estranhamente belas. Essas são as principais características das obras mais conhecidas de Alberto Giacometti, um dos maiores escultores do século XX.
Nesta semana, para comemorar seu 120º aniversário, o Jornal O Serrano traz uma edição especial, explorando sua história e seu rico legado artístico.
Giacometti nasceu no dia 10 de outubro de 1901, em Borgonovo di Stampa, uma pequena aldeia rodeada por montanhas, no sudeste da Suíça. Seu pai, Giovani Giacometti, era um grande pintor da época e foi uma de suas primeiras influências na arte, assim como seu padrinho, Cuno Amiet, conhecido por suas pinturas fauvistas.
Nesse ambiente artístico, Giacometti sempre se mostrou interessado pelas artes. Durante a sua adolescência, começou suas produções através do desenho e logo passou a pintar, esculpir e fazer gravuras de madeira.
Com o objetivo de seguir carreira artística, Alberto mudou-se para Genebra em 1919, onde estudou na École des Beaux-Arts e na École des Arts et Métiers.
Um ano depois, Giacometti acompanhou seu pai à Bienal de Veneza e em 1921 visitou Roma, Florença e os arredores. Nessas viagens, o artista passou por uma série de influencias artísticas, e ficou especialmente fascinado com a arte egípcia e africana.
Em 1922, foi morar em Paris e começou a estudar com o escultor Antoine Bourdelle, um dos artistas mais destacados da Belle Époque – período considerado como a ‘era de ouro’ da Europa, quando a cena cultural estava em efervescência em todo o continente.
Nos quatro anos seguintes, Giacometti estudou escultura na Académie de la Grande-Chamière e, ainda na Cidade Luz, o artista experimentou diferentes estilos artísticos, como o cubismo e surrealismo, além de ter trabalhado com nomes importantes como Joan Miró, Pablo Picasso, Max Ernst e outros.
Na segunda metade da década de 20, o artista descobriu-se apaixonado pela arte primitiva e suas representações do corpo humano se tornaram cada vez mais abstratas. Alberto acabou abandonando por completo o aspecto realista de seus trabalhos e passou a transmitir sua essência psicológica em suas obras.
Sentimento e representação
Na década de 40, Gicometti passou a criar uma série de esculturas de cabeça, com o intuito de transmitir sua própria relação física com seus modelos no espaço. No entanto, quando o artista estava no auge pessoal de seus esforços criativos, o início da Segunda Guerra Mundial e o avanço do exército na França, o forçaram a fugir de Paris e voltar para a Suíça. É neste momento que suas obras começam a se tornar finas e cada vez menores em tamanho, oferecendo um aspecto triste, de solidão e sofrimento às figuras.
Durante a década de 1950, seu trabalho continuou a evoluir constantemente, só que desta vez, suas esculturas se tornavam maiores, ainda mais finas e mais complicadas no design. Além disso, ele também realizou uma série de retratos de membros da família, principalmente de sua esposa, Annette, com quem se casou em 1949.
O artista também retratou alguns de seus amigos, como o pintor Henri Matisse, a escritora Jean Genet, e o músico Igor Stravinsky.
A vida está dentro dos olhos
O estilo mais conhecido de Giacometti, que são justamente as figuras humanas representadas de forma abstrata, isolada e muitas vezes em pé ou caminhando, traz uma sensação forte para quem observa. O destaque está nos olhos, que transmite algo vazio, como se a visão daquelas figuras passasse despercebidamente por cima do espaço ao redor. Os bustos lembram rochedos e montes grotescos que se transformam em rostos anônimos, sem expressão.
Para os críticos, há também na obra do artista uma certa busca pela equivalência entre o homem e a natureza, representada pelas formas de seres esguios como se fossem clareiras e florestas.
Certa vez, o filósofo Jean-Paul Sartre escreveu que as figuras produzidas por Giacometti poderiam ser associadas às ideias existencialistas e à sensação de trauma proveniente do pós-guerra. A partir disso, o artista passou a ser reconhecido por este olhar. “O perfeito artista existencialista, a meio caminho entre o ser e o nada”, dizia Sartre.
Em seu auge, no início dos anos 60, Giacometti recebeu diversos prêmios da sociedade artística e teve suas obras expostas nos museus mais importantes do mundo. Faleceu em janeiro de 1966, por motivos de saúde, em Chur, na Suíça. Atualmente, seu nome é considerado um dos maiores das artes plásticas.
Este texto foi escrito com informações do documentário “Giacometti”, produzido para o Conselho de Artes da Grã-Bretanha, em 1967; além da Revista Istoé e do Jornal a Folha de S. Paulo.
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