Ainda de tenra idade e pelos anos de 1946 ou talvez 1947, através de um livro escolar, tive a oportunidade de tomar conhecimento de uma lição em livro de meu currículo
Ainda de tenra idade e pelos anos de 1946 ou talvez 1947, através de um livro escolar, tive a oportunidade de tomar conhecimento de uma lição em livro de meu currículo, uma história deveras interessante e de muita profundidade, tanto é, que gravou em minha mente de criança e perdura até hoje, quando já conto com quase oitenta longos anos.
Essa lição narrava que certo homem já combalido pela idade avançada e portando um defeito físico tinha em seu costumeiro trajeto a obrigatoriedade de passar em frente a um grupo escolar e quase sempre no mesmo horário das crianças que faziam seu desjejum. Sem mais, nem menos, um daqueles moleques muito mal-educados e que infelizmente por isso, trazia consigo um alto espírito de liderança, começou a achincalhar o pobre velho que como já dissemos, tinha uma das pernas amputada, chamando-o insistentemente de perneta.
O seu espirito de liderança era tão grande que logo contagiou quase todos, até mesmo os mais educados. Por mais que o velho não ligasse a coisa, dia a dia, foi aumentando a ponto de não ser mais possível tolerar as ofensas. Diante disso, o velho em determinado dia, foi andando bem devagarinho pela calçada encostando-se à parede e quando o menino malcriado titubeou, o velho o tomou pelo braço. Quando esse menino se viu seguro pela mão trêmula do ofendido, começou a chorar de medo fazendo com que os outros se afastassem.
Entretanto, o bom velhinho acalmou o menino e pediu para que ele fizesse com que os outros se achegassem, o que de fato aconteceu. Tomando a palavra, o velho justificou que não queria fazer mal a nenhum deles e nem comunicar ao diretor da escola, só queria que eles prestassem atenção para entender o motivo de ter uma perna só, o que dava origem a toda a chacota diária.
Não é preciso dizer que, os meninos ficaram quietos e até um pouco trêmulos. Continuando com a palavra, o velho disse que na sua mocidade era notícia em todos os meios de comunicação existentes que na Europa surgiu um grande monstro que soltava fogo pela boca e narinas; que arrancava crianças do colo de suas mães e devorava os homens que dele se aproximassem, fazendo chorar com lágrimas de fel, as famílias que eram atingidas. Como convocado, ele partiu para a Europa para combater esse bicho feroz que tanto mal fazia à humanidade dizimando-a e que num descuido dele lhe comeu a perna provocando uma invalidez permanente em sua vida.
Após outras narrativas os meninos todos muito curiosos e atraídos pela história, carinhosamente perguntaram: “Vovô com chamava esse bicho? O velho com lágrimas nos olhos disse: “Era a guerra meus filhos”. Nesse momento tocou o sinal e cada um foi para seu lado, com a firme promessa dos garotos que emocionados disseram: não riremos mais e jamais o chamaremos de perneta.
Esse longo preâmbulo de nossa história, serve para se imaginar a coragem o destemor e patriotismo de nosso querido primo Ari Carei Vieira que, juntamente com outros valorosos serra-negrenses, enfrentaram esse terrível monstro que cada um deles, deixou um sinal que, penso eu, não atingiu a perna mas sim o coração. Esse ente querido que dias atrás se desligou deste plano espiritual, antes de ser um ente querido, foi a exemplo de outros, um verdadeiro herói nacional que jamais poderá ser esquecido e cujo nome deve ser respeitado e marcado indelevelmente no rol de nossos grandes homens, porque os heróis jamais poderão ser esquecidos e suas vidas e conquistas deverão ser marcadas no eterno livro de nossa comunidade, seu berço natal, Serra Negra que ele tanto amava.
Obrigado meu bom primo Ari por tudo o que você representou para nossa cidade e nosso povo.
Ari Carei Vieira faleceu no dia 15 de maio, na cidade de Amparo.
Texto enviado por Fernando Fioritti Corbo
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